Canções podem se tornar uma ameaça à sustentabilidade da vida
As águas vão rolar / Garrafa cheia eu não quero ver sobrar/ Eu passo mão no saca saca saca rolha/ E bebo até me afogar… (Mirabeau Pinheiro-Lúcio de Castro-Heber Lobato)
Das marchinhas de carnaval até o repertório atual convivemos com canções cujos textos revelam a ingestão de drogas lícitas ou ilícitas.
Se você pensa que cachaça é água/ cachaça não é água não… (Zé da Zilda e Zilda do Zé)
Escutamos intérpretes convocando (de forma explícita ou subliminar) ao consumo de bebidas alcoólicas, lança-perfume, maconha e outras drogas sintetizadas.
Quem não tem colírio usa óculos escuro…(Raul Seixas)
Ouvimos declarações de músicos sobre o quanto a droga auxiliou a criar, a buscar novas ideias, a enfrentar numerosas plateias ou a suportar longas turnês artísticas. Afirmam que perdas são superadas e estados alterados de consciência são alcançados.
Eu bebo sim, e estou vivendo, tem gente que não bebe e está morrendo, eu bebo sim!… Bebida não faz mal a ninguém…(Luiz Antônio)
Não nos surpreendemos com o óbito súbito e precoce de ícones da música vitimados pelo alcoolismo, overdoses ou por complicações devido ao abuso de substâncias psicoativas.
Tornei-me um ébrio na bebida, busco esquecer… (Vicente Celestino)
O meio artístico não é o único e exclusivo espaço para as drogas. Seus efeitos devastadores inseriram a sociedade em campanhas de promoção, prevenção e proteção à saúde.
Fuma, fuma, fuma folha de bananeira/ Fuma na boa só de brincadeira… (Armandinho)
Gerações assistiram comerciais de cigarros e de bebidas alcoólicas embalados por belas trilhas sonoras. Imagens sonoras e visuais motivaram a praticar esportes radicais, a extrapolar limites de velocidades, a ingressar no “mundo do sucesso”!
Sigo incendiando, bem contente e feliz/ Nunca respeitando o aviso que diz
Que é proibido fumar! Rá! Rá! Rá! (Roberto Carlos)
A arte imita a vida ou a vida imita a arte? Temos observado que o uso de drogas de abuso insere-se nas canções imprimindo um novo comportamento de forma bastante comum. Canções de nossa preferência promovem uma sensação de prazer e de recompensa, assim como as drogas de abuso também interferem no sistema de recompensa do cérebro humano.
Lança menina/ Lança todo esse perfume/ Desbaratina não dá prá ficar imune… (Rita Lee)
Ao cantarmos reiteradamente uma canção internalizamos novas ideias e outras formas de comportamento. Conscientemente podemos refutar as drogas, mas como impedir que o conteúdo veiculado pelo texto de belas canções não seja uma ameaça à sustentabilidade da vida?
Caminhando contra o vento/ sem Lenço e Sem Documento… (Caetano Veloso)